Hoje, no trabalho,
com os pensamentos em tantos lugares, fui viajando, viajando,
pensando na perda de tempo que é viver. Bem, na verdade tudo começou
completamente pelo inverso: resolvi começar a VIVER. Isso mesmo:
viver decentemente, fazendo o que quero fazer, etc., etc., etc…
Blá, blá, blá…
Tudo bem, estou
fazendo musculação, comecei a correr, vou ter mais saúde. Comecei
a comer mais decentemente, estou tomando um complexo vitamínico para
ajudar a suprir as carências, até comecei a dormir mais cedo.
Pra quê? Pra que
serve eu ter saúde?
Poderei viajar mais,
minhas costas vão doer menos quando eu pilotar a moto, terei mais
disposição. Conseguirei ir, por exemplo, conhecer uma cidade
distante, pela manhã, e voltar à noite. Conseguirei fazer mais
coisas pois terei mais saúde.
Pra quê? Pra que
conhecer novos lugares?
Vou tirar fotos,
gravar filmes, conhecer pessoas. A igreja vai ficar magnífica na
foto, vou conseguir mostrar pra todo mundo o meu “olhar
fotográfico”. Vou conseguir captar a imagem do pássaro lá longe
com minha câmera com superzoom. Vou conseguir saber a história da
cidade, o nome do prefeito, as fofocas do padre e do dono da zona.
Pra quê? Pra que
serve isso tudo?
Vou poder postar no
Instagram, no Facebook, nos aplicativos virtuais. Nos mesmos
aplicativos onde tenho milhares de amigos que não sabem que existo.
Terei “curtidas” de pessoas que nem ao menos olharam as fotos com
atenção suficiente, nem perceberam que as mesmas estavam de “cabeça
pra baixo”, completamente invertidas, erradas.
Pra quê? Pra que
ter aplicativos tão inúteis?
E eu também acabo
sendo um amigo ridículo de tanta gente que não merece minha
amizade. Eu não vejo nada de ninguém, não curto, não comento, não
existo pra eles. E o melhor então é eu ir assistir a um filme, ler
um livro, ouvir um jazz.
Pra quê? Pra quer
assistir filmes?
Vão dizer que
minha cultura aumentará, meu vocabulário ficará extraordinário,
conseguirei falar e escrever com mais qualidade, serei admirado
porque farei poesias com mais conteúdo e sensibilidade, escreverei um livro e o colocarei na estante.
Pra quê? Pra que
escrever poesias?
Minhas poesias são
a minha história, mas quem quer saber a minha história? Meus livros
são a minha imaginação, mas quem quer saber o que penso? E se
quiserem saber, pra que serviria eu contar os meus desejos, minha
vida, minha loucura? Os meus sentimentos morrerão comigo.
Pra que viver?
O final disso tudo é
a morte. Uma morte que apagará minha história, que esconderá o rosto
de alguém que ninguém sentirá falta, que rabiscará um nome que
nunca deveria ter sido escrito, um ser que nunca deveria ter sido
gerado, uma alma que nunca deveria ter sido “soprada”.
Falta o fundamento.
Falta o motivo. Falta a razão. Falta o sentido.
Viver pra quê?
Depois que assisto ao filme fico pensando de que me serviu se não vi
graça na história, se não ri das piadas, se não senti medo do
sangue. Para quem contarei a história? O que me acresceu a trama? O
que admirar se não consigo ver sentido na história romântica que o
diretor renomado quis contar?
O mesmo acontece
quando leio livros, escuto músicas, converso com pessoas. Existem
algumas pessoas que nunca deveriam ter existido, são ridículas.
Acho que eles pensam o mesmo de mim. Eu sou ridículo.
Dirão que me falta
Deus. Dirão que me falta Esposa. Dirão que é carência. Dirão
que é a crise da idade. Dirão que é o trabalho. Dirão que é a
falta da família. Dirão tantas asneiras que não saberei o que é verdade e o que é mentira, mesmo sabendo que não existem verdades nem mentiras. Dirão que não tenho motivos para reclamar.
Acho que é isso.
Está tudo tão bem que não vejo mais graça em nada. Nem em viver.
Jorge de Siqueira
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